09 março, 2006

TV digital terá implantação gradual no país

DANIEL CASTRO
Colunista da Folha de S.Paulo

A curto prazo, a TV digital vai mudar pouca coisa na vida do telespectador.
A tão falada "revolução" só ocorrerá com o aumento da produção de conteúdo
de alta definição, com o desenvolvimento de aplicações de interatividade e
com a venda de aparelhos que faça a convergência de mídias (ou seja, que
reúna televisão, internet e telefonia) a preços acessíveis.

Se o governo anunciar agora a opção pelo padrão de modulação japonês, as
redes prometem inaugurar as transmissões digitais em 7 de setembro. A Globo
articula um jogo da seleção brasileira. Pouco antes, na Copa do Mundo, já
deverão ocorrer transmissões experimentais, mas com recepção em pontos
específicos -não na sua casa.

Para receber sinal digital já em setembro, o telespectador precisará gastar
no mínimo R$ 200. Essa é a estimativa otimista do preço mais barato das
caixas decodificadoras (set-top boxes). Qualquer televisor comprado nesta
década poderá ser transformado em digital com uma caixa dessas. Uma TV de
tela plana já terá um ganho surpreendente. A principal diferença será no
formato de tela. Vigorará o formato 16:9, na mesma proporção das telas de
cinema.

No mercado de fabricantes de eletroeletrônicos, no entanto, há uma dúvida
crucial: pode faltar tempo para a indústria produzir set-top boxes em escala
suficiente para vendê-las, já em setembro, a preços competitivos. Os
fabricantes afirmam que precisam de pelo menos um ano, após a decisão do
sistema de TV digital, para começarem a produzir televisores e set-top boxes
em escala.

O principal argumento das redes na defesa do padrão japonês é que elas
oferecerão imagens de alta definição (HDTV), muito superiores às dos DVDs.
Mas não se anime. Em 7 de setembro, as redes já transmitirão em sinal
digital, mas pouquíssima coisa será em alta definição. A Globo ainda não
produz novelas em HDTV. Só seriados como "A Diarista".

Além disso, são poucos os modelos de TV já disponíveis e realmente prontos
para receber em HDTV -e custam a partir de R$ 15 mil. Alguns modelos de
plasma e LCD estão sendo vendidos como "ready to HDTV", mas não são. Antes
de comprar, verifique qual a resolução das imagens. Só são realmente HDTV os
que oferecem definição de 1.080 linhas.

Um sistema de TV digital é composto por quatro elementos: o padrão de
modulação, o padrão de codificação, o "middleware" (o sistema operacional,
algo como um Windows da TV digital) e a linha de retorno (como se dará a
volta da interatividade). Há dúvidas se o governo federal definirá já o
middleware, em que se rodarão softwares de interatividade.

A tendência é o governo optar por um middleware nacional, desenvolvido por
universidades brasileiras. Como essas tecnologias ainda não foram testadas,
há um certo medo rondando as redes de TV. Teme-se, por exemplo, que o
middleware nacional seja suscetível a ataques de hackers.

Além disso, a TV digital será implantada gradualmente em todo o país.
Primeiro, as redes instalarão novos transmissores em São Paulo, depois no
Rio e nas principais capitais. Deverá levar mais de dez anos para cobrir
todo o país.